Em meio às vielas, becos e morros do Rio de Janeiro, um movimento poderoso vem crescendo — liderado por mulheres que decidiram não esperar por oportunidades, mas criá-las. O empreendedorismo feminino nas comunidades cariocas está florescendo como uma resposta direta à desigualdade e à exclusão, tornando-se uma verdadeira força de transformação social, econômica e emocional.
Quando Empreender é Resistir
Muitas dessas mulheres são mães solo, chefes de família, jovens sonhadoras ou mulheres maduras que decidiram recomeçar. Elas encontraram no empreendedorismo não apenas uma saída para garantir o sustento, mas também uma forma de expressar sua identidade, seus talentos e sua força.
E os números confirmam essa realidade. De acordo com dados do Data Favela, cerca de 60% dos negócios nas comunidades são liderados por mulheres. A maioria delas é negra, tem entre 30 e 45 anos e, muitas vezes, sustenta sozinha toda a família. Mesmo sendo a base da economia local, essas empreendedoras enfrentam diversas barreiras — desde o acesso a crédito até a sobrecarga do trabalho doméstico e o preconceito estrutural.
Negócios com Propósito e Raiz Comunitária
Diferente do modelo tradicional, o empreendedorismo nas favelas nasce da escuta da comunidade. Essas mulheres não apenas vendem produtos — elas oferecem soluções reais para os desafios locais. Um salão que também acolhe mães com filhos pequenos. Uma loja de roupas que celebra a ancestralidade afro-brasileira. Uma cozinha comunitária que alimenta, ensina e fortalece laços.
Exemplos como o de Dona Sônia, no Complexo do Alemão, que transformou sua cozinha em um restaurante popular, ou de Rafaela, da Maré, criadora de uma marca de moda com impacto social, mostram o quanto essas iniciativas são potentes e conectadas com as reais necessidades do território.
A Força das Redes e da Tecnologia
As redes sociais se tornaram grandes aliadas dessas empreendedoras. Pelo Instagram, WhatsApp e Facebook, elas divulgam seus produtos, contam suas histórias e alcançam clientes de todas as regiões do Brasil. Essa visibilidade impulsiona não só as vendas, mas também o orgulho de ser quem são e de onde vieram.
Projetos como o “Rede Mulher Empreendedora”, o “Maré de Sabores” e os programas do Sebrae RJ têm fortalecido essa jornada, oferecendo capacitação, microcrédito e mentoria. Parcerias com ONGs, coletivos e iniciativas locais também desempenham um papel fundamental nesse fortalecimento.
Desafios Ainda Persistem
Apesar dos avanços, muitos obstáculos continuam no caminho. A informalidade, a dificuldade de acesso a crédito, a ausência de políticas públicas específicas e a dupla jornada de trabalho — dividida entre o empreendimento e o cuidado com a família — tornam a caminhada dessas mulheres ainda mais desafiadora.
Elas representam a base da economia nas favelas, mas nem sempre têm acesso aos mesmos direitos e oportunidades de empreendedores de outras regiões. Isso precisa mudar.
Transformação Que Vem de Dentro
O empreendedorismo feminino nas comunidades do Rio é mais do que uma tendência econômica. É um grito de liberdade, uma ponte para a autonomia, uma semente de transformação coletiva. Ao empreender, essas mulheres não apenas mudam suas vidas — elas mudam o mundo ao seu redor.
Elas nos lembram que o futuro não será construído de cima para baixo, mas de dentro para fora, com as mãos de quem conhece a dor e a beleza da favela. E esse futuro tem voz, tem cor, tem propósito — e, cada vez mais, tem nome de mulher.
Redes de Apoio e Capacitação
Diversos programas vêm dando suporte concreto a essas mulheres:
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Sebrae Delas: oferece capacitação em gestão, marketing, finanças e mentoria, com foco nas necessidades da mulher empreendedora. Sebrae Playagenciasebrae.com.br
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Cursos como “Favela é Potência - Bora decolar!”, em parceria com a CUFA e Sebrae, oferecem formação 100 % gratuita para empreendedores das comunidades. Sebrae+1Sebrae+1
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ONGs como a Asplande realizam encontros de trocas e formação para mulheres em favelas do Rio. pt.wikipedia.org